terça-feira, 17 de junho de 2008

98 - UMA AVENTURA NAS ÁRVORES - A MÚSICA

A composição da trilha foi entregue para o experiente músico Cristiano Hansen. Constava de algumas músicas e canções que pontuariam o espetáculo e também a trilha especialmente composta para abertura da peça que dentro da história que estávamos encenando funcionava como a música de abertura das comemorações oficiais de aniversário da Penúmbria, localidade onde tudo se passava. Esta música de abertura era executada pela Banda Municipal de Penúmbria que na verdade era a Banda Municipal de Porto Alegre que, devido a boa vontade dos músicos e gentileza do maestro havia concordado em ensaiar a música de abertura do espetáculo e executar a trilha durante as oito apresentações do espetáculo coisa que acabou não acontecendo por problemas insanos que serão comentados separadamente. A trilha era linda. O momento interpretado pela Banda Municipal era divino. O público não podia acreditar no que estava vendo e ouvindo. A Banda Municipal executando ao vivo, à noite, na Redenção a trilha de abertura especialmente composta para o espetáculo. Desculpem, mas era lindo. Sublime.
A trilha era executada ao vivo pelo próprio Cristiano, o conhecido Gustavo Finckler e o gaiteiro Jorge Cardoso. Acompanhavam de perto o espetáculo, às vezes como músicos contratados para uma serenata, às vezes como músicos da cidade que participavam da solenidade, às vezes integrando-se as cenas. Enfrentaram problemas com o volume. Faltava estrutura. Talvez mais músicos ou estrutura de som mesmo. As canções eram lindas. Vou aprender a colocar aqui nop blog. Pelo menos a canção interpretada pelo Coral do Anões de Penúmbria e a canção final, quando Cosme, já bem velho, se agarrava a um balão e subia e sumia no céu. Outro momento marcante que parecia agradar muito ao público presente.

sábado, 14 de junho de 2008

98 - UMA AVENTURA NAS ÁRVORES - O ELENCO

Não só pela experiência que tivemos trabalhando juntos em Dois Perdidos Numa Noite Suja, mas por se tratar de um excelente e versátil ator, o elenco teria como protagonista Kike Barbosa. Oriundo do Ói Nóis, já contando com uma boa experiência, ele encarnaria o personagem de Cosme, que numa discussão com o pai profere, contra si mesmo, a sentença que o condena a viver sobre as árvores para o resto da vida. Para viver o papel do autoritário Barão, pai de Cosme, convidamos Arlete Cunha, atriz ja naquela época premiadíssima e qualificadíssima, também saída do Ói Nóis. O restante da família se compunha com Giselle Cecchinni, maravilhosa atriz recém chegada de São Paulo, no papel da Baronesa chamada de Generala; Biño Sawitzki, jovem ator cheio de gana, seria o gentil e educado irmão Biágio quando jovem, pois o mesmo papel, na velhice, era desempenhado pelo grande Sérgio Etchichury (mais um do Ói Nóis); e Sandra Possani (mais uma do Ói Nóis), a desagradável irmã Batista. E tinham os agregados. A extraodinária atriz Liane Venturella, aprenderia a andar à cavalo para viver a avançada Viola, a namorada de Cosme. E Tiago Real seria o Conde D'Estomac, incauto pretendente à mão de Batista.
Como se vê um elenco de peso que era secundado por Álvaro Rosacosta, Fernando Pecoits, Laura Backes, Renato Santa Catharina, Vika Schabbach, Vinicius Petry, Giancarlo Carlomagno e Raquel Nicoletti, atriz que hoje reside em Portugal.
Além destes havia os atores que formavam o elenco chamado 1,99 composto por atores iniciantes que receberiam este indigno cachê por dia de ensaio e cada uma das 8 apresentações. Os outros ganhavam um cachê inventado pela produção que servia mais como uma ajuda de custo do que propriamente como um salário digno para a função especializada que é a de ator. Ou músico. Ou diretor de teatro. Os 1,99 eram André Mubarack, Carla Castro, Fernando Xavier (que acabou não estreando), Janaina Pelizzon, Kailton Vergára, Larissa Maciel, Messias Gonzalez, Miriã Possani, que tinha uns 9 ou 10 anos na época, Nádia Mancuso, Sabrina Lermen e Tuta Camargo. Onze atores, quase todos em início de carreira, em sua maioria alunos do DAD que foram recrutados pela produção.
Assim, que eram 16 atores, 11 atores convidados, 2 cavalos da BM, 3 músicos e alguns técnicos. Que sempre ficam indignados porque sempre são nomeados por último.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

98 - UMA AVENTURA NAS ÁRVORES - O TEATRO EVENTO

Outro viés da pesquisa nos levava para o teatro (re) colocado como um evento social importante, que tem o poder de recriar novas e múltiplas realidades e sentimentos diante dos olhos e dos corações do público que sente-se, imediatamente cúmplice e fazendo parte de algo ou de alguma coisa maior do que sua pequena vida. Uma nova maneira de propor o teatro aos olhos do público deslocando o evento teatral para um espaço não-convencional mas ligado as origens do teatro, quando atores e público conectavam-se com o cosmos através da arte. A história da arte mostra que em várias épocas o teatro assumiu este papel destacado e importante na sociedade, na civilização.
É claro que o dinheiro que recebemos do Fumproarte jamais daria conta de um sonho deste tamanho, de uma experiência com tamanha profundidade. O investimento não permitiu, por exemplo, que dispuséssemos de boas condições técnicas. Nossa iluminação era, no mínimo, razoável. Pra não dizer ruim. Os camarins que os atores usavam eram péssimos. A acomodação do público era péssima. Causamos estragos desnecessários na vegetação do Recanto Europeu. A improvisação e a criatividade foram requisitos fundamentais em muitos momentos. No final de cada apresentação, onde deveria ter uma mini explosão de fogos de artíficios, estouravámos seis foguetes de doze tidos porque era o que cabia no orçamento. Algumas maravilhosas soluções cênicas são encontradas neste engessamento orçamentário, mas são incontáveis as vezes que brilhantes soluções são sacrificadas porque o dinheiro não alcança. Principalmente quando a assunto é iluminação. As empresas que alugam equipamentos cobram um preço exorbitante.
Então para trazer de volta ao teatro este caráter de evento, de um acontecimento teatral que deve ser visto tem que haver investimento. Quando a gente vê uma apresentação do La Fura del Baus, da Ariane Minuxiquini, cada um dos grandes espetáculos trazidos pelo Porto Alegre em Cena, têm uma grana razoável por trás. Uma produção profissionalíssima movida a grana, a investimento.
Mas, respeitando nossos limites artísticos e financeiros, creio que conseguimos transformar cada uma das oito apresentações de "O BARÃO NAS ÁRVORES" num evento tão único quanto efêmero. Seguiámos no caminho iniciado por todas as experiências, happenings e perfomances cênicas dos anos 60, o trabalho do Bread and Puppet, as pesquisas sobre o espaço orientadas por Jerzi Grotowski, a pesquisa sobre a relação ator/espectador desenvolvida desde de o início pelo Ói Nóis Aqui Traveis. Enxergávamos nestes trabalhos uma preocupação com o espaço e também com a conexão possível entre atores e público (espetáculo); percebíamos que também estes artistas ansiavam por uma expressão mais profunda e autêntica/artística, buscavam a experiência humana que acontece quando o teatro se instaura. Parece muita coisa.

98 - UMA AVENTURA NAS ÁRVORES - O ESPAÇO

"O Barão nas Árvores" foi uma experiência magnífica. Uma experiência que dividiu-se em muitas. Pra começar estávamos delimitando uma nova forma de fazer teatro: o teatro-na-rua. O teatro que, como o teatro-de-rua é realizado na rua, mas que depende como cenário de um determinado local, sem o qual sua concepção ficaria diminuída ou alterada. Pesquisávamos uma relação com o espaço. O espaço-cenário. O espaço enquanto arquitetura e significado relacionando-se com o teatro, influenciando e sendo influenciado por este. O Teatro da Vertigem tinha realizado sua primeira experiência com O Paraíso Perdido, em 1992. Em 1995, O Livro de Jó estava em cartaz num hospital de São Paulo nos mesmos dias e horários em que apresentavámos o nosso "Decameron" no subsubsubsolo do Teatro Ruth Escobar. Eu não pude assistir o espetáculo, mas ele era a sensação e o assunto do momento. No meio cultural, bem entendido. O Barão nas Árvores coloca-se, assim, como mais uma experiência no mesmo sentido. Havia uma tendência no ar. Eu tinha lido uma matéria numa revista falando das pesquisas que estavam sendo realizadas na busca de novos espaços para colocar o produto cultural. Isto vem sendo feito há muitos anos pelas chamadas artes plásticas ou artes visuais e com algumas experiências de grupos da Austrália, Espanha, alemanha e Canadá. Cada um visualizando uma nova maneira de propor o acontecimento teatral diante da platéia. O nosso espaço era sobre as àrvores.

domingo, 8 de junho de 2008

98 - UMA AVENTURA NAS ÁRVORES - OS ENSAIOS

No início do mês de março, confirmado o financiamento do Fumproarte, que entendeu a importância teatral da proposta, com data de estréia marcada para o final de abril, começou a gigantesca e louca aventura de construção do texto e do que viria a ser o espetáculo "O Barão Nas Árvores da Redenção". O complemento no título foi uma sugestão da representante da SBAT para que escapássemos de recolher uma pequena fortuna exigida pelos detentores dos direitos do Ítalo Calvino, autor do romance "O Barão nas Árvores", que junto com "O Cavaleiro Inexistente" e "O Visconde Partido ao Meio" formam a trilogia "Os Nossos Antepassados". Este último, aliás, foi encenado pelo Grupo Galpão, com direção de Cacá Carvalho, alguns anos após o nosso Barão.
Desde o princípio ja sabíamos que todo trabalho de montagem, todos os ensaios, toda a produção, seria apenas para realizar oito míseras apresentações, mas isso não diminuia nem um pouco a energia que colocamos no projeto. Éramos 30, 40 pessoas envolvidas por inteiro na realização da peça. Eu e a Patrícia Fagundes dividimos os capítulos de livro e íamos adaptando e trocando idéias sobre o espetáculo, sobre a concepção das cenas e da peça. Foi um processo riquíssimo. As cenas era passadas aos os atores quase que diariamente. As coisas iam se sucedendo simultaneamente. O espetáculo sendo criado a cada dia de ensaios e a cada noite de escrita. Era a primeira vez que eu trabalhava com a dramaturgia de um espetáculo. Uma verdaderia epopéia é adaptar um romance para o teatro. Ainda mais quando Calvino criara um romance onde acontecia uma sucessão incansável de acontecimentos extremamente encadeados. Sacrificamos muitas cenas lindas do livro e ainda assim o espetáculo ficou longo. Mas tinha que ser assim. Ele (o espetáculo) tinha uma imensa variedade de formas e estilos, apresentava uma gama enorme de surpresas do início ao final da peça, cuja história principal se passava em cima das árvores. Foi uma loucura transpor o texto e as cenas para o teatro. Mas, a prática dos ensaios e improvisações dos atores ia alimentando a escrita do texto e vice-versa.
Os ensaios aconteceriam no próprio local. O ponto de encontro era o Recanto Europeu. O elenco contava com 10 atores pricipais, 20 atores 1,99, dois cavalos da BM, e três músicos, que ficavam ultra indignados porque sempre eram nomeados depois dos cavalos. Mas a música é um capítulo à parte na composição do espetáculo. Aliás, cá entre nós teatreiros, via de regra, a música quase sempre é um problema `a parte na composição de um espetáculo. É ou não é?