sexta-feira, 19 de setembro de 2008

98 - 2XNELSON - AS ORIGENS DO DEPÓSITO DE TEATRO

Antes de entrar no assunto: um pequeno preâmbulo.
Como se sabe, as três peças de Plínio Marcos encenadas no Arena faziam parte do Projeto Teatro Brasileiro. Pois, numa folga de uma das temporadas do Decameron (Cia. Teatro Stravaganza), em São Paulo, fomos todos ao Teatro da Aliança Francesa assitir uma montagem do Grupo Tapa dirigido pelo Tolentino. Eles estavam desenvolvendo um projeto chamado Panorama do Teatro Brasileiro. Encenações de Martins Penna, Nelson Rodrigues (O Vestido de Noiva) e mais um autor nacional que não lembro agora. O projeto era um sucesso. A Secretaria da Educação de São Paulo patrocinava apresentações para que o público escolar tivesse oportunidade de entrar em contato com grandes autores do teatro brasileiro. Era uma idéia fantástica que poderia ser aproveitada em Porto Alegre visto que os maiores dramaturgos da terra não eram encenados na cidade há mais de trinta anos. Achei que poderia fazer algo semelhante em Porto Alegre e batizei de Projeto Teatro Brasileiro. Havia descoberto a polvóra. Pena que a Secretaria de Educação/RS não deu a menor importância para o projeto e os únicos alunos que levamos ao teatro foram os da Descentralização da Cultura. O que é bom para São Paulo não é bom para Porto Alegre.
Mesmo com este balde de água fria, por insistência da Patrícia Fagundes que achava que a gente devia investir no nome e na idéia, entregamos ao Fumproarte a proposta de uma nova etapa do Projeto Teatro Brasileiro: 2 X NELSON que pretendia encenar O BEIJO NO ASFALTO e BOCA DE OURO num espaço alternativo que seria alugado por seis meses com verba financiada pelo patrocinador.
Nas peças do Arena havíamos transformado o teatro. O cenário do Nelsinho (Nelson Magalhães) ocupava e trasformava literalmente a sala de apresentações e a platéia. A questão espaço estava no embrião da concepção. No "Barão" o espaço era determinante. E mais uma vez queríamos experimentar a relação espaço/espetáculo/público, então não fazer as peças num palco italiano era, agora, um dos pilares da pesquisa que estava sendo detonada com a realização destas duas peças de Nelson Rodrigues e que seria posteriormente aprofundada com as que viriam.
O fato é que o Fumproarte aprovou o Projeto reconhecendo nele originalidade e experimentação. Aleluia!
Assim começamos a ensaiar O Beijo no Asfalto com direção da Patrícia Fagundes.
* Na foto: Kike Barbosa e Vanise Carneiro.

98 - UMA AVENTURA NAS ÁRVORES - TODO MUNDO

Para encerrar a etapa Barão nas Árvores uma foto com todos os participantes, inclusive os músicos e sem os cavalos e, como diretor, quero concluir deixando anotado que com o Barão nas Árvores dei início a primeira etapa de uma pesquisa relacionada ao espaço onde o teatro se realiza. Tenho consciência de que a proposta era ousada. Tenho consciência que o evento era melhor do que a peça. O espetáculo ficou longo, descontínuo nas interpretações e, como seguidamente acontece em Porto Alegre, com a terça parte final pouco ensaiada, apresentando problemas de ritmo. Tenho consciência que colocamos coisas demais na adaptação. Tenho consciência que faltaram recursos financeiros para bancar as idéias que estavam esboçadas na peça e também algumas que foram abandonadas por serem "caras". A realização do espetáculo foi tremendamente gratificante. Já a impossibilidade de realizar uma nova temporada foi decepcionante. Os administradores da cultura e do turismo de Porto Alegre burramente não enxergaram o produto que um bando de teatreiros alucinados estavam colocando em cena. Nem o Porto Alegre em Cena quis bancar mais algumas apresentações da peça. Decepcionante. Até hoje acho que valeria à pena investir na experiência. Dotar o Recanto de uma estrutura adequada para o evento. Devolver a Banda Municipal ao espetáculo. Melhorar os equipamentos de som e de luz. Permitir que o espetáculo amadurecesse. Que a experiência desabrochasse no parque e a peça ganhasse notoriedade e fosse apresentada em outras cidades do país e, por que não do mundo. Apresentar O Barão nas Árvores anualmente no Recanto Europeu durante a semana da Primavera. Colocar a peça no calendário de eventos da cidade como um atrativo artístico e turístico. Em Londres existem peças que estão há mais de trinta anos em cartaze os tupiniquins saem de qualquer ponto do país com o ingresso comprado para assistí-las. Mas em Porto Alegre isso é impensável. Só o Tangos e Tragédias faz isso. Enviamos um projeto para a Secretaria da Cultura do Município e do Estado. Mandamos o projeto para a Secretaria de Turismo do Estado. Enviamos o projeto para Canela/RS, cidade que respira turismo e quer ser conhecida como impregnada de teatro. Não houve interesse. Falta de visão dos nossos donos da cultura. São míopes. Talvez porque se coloquem distantes da cultura.