sábado, 26 de abril de 2008

97 - ABAJUR LILÁS - A TRILOGIA SE COMPLETA

Encerrando o ciclo, entrou em cartaz a feroz O ABAJUR LILÁS, que coloca em cena o submundo da prostituição, com seus bordéis, quartos pulguentos, putas, cafetões, leões-de-chácara, a escória da escória portuária que Plínio Marcos tão bem conheceu em Santos, sua cidade natal. Nesta peça fiquei sem minha assistente de direção, que passou a integrar o elenco. As três prostitutas, Célia, Leninha e Dilma, eram, respectivamente Patrícia Fagundes, Vanise Carneiro e Adriane Azevedo. Fizemos contato com o Sindicato das Prostitutas, e algumas participaram de ensaios orientando diretamente as atrizes quanto ao comportamento e esclarecendopreconceitos e verdades deste mundo. Na cena, o que se viu foi Patrícia Fagundes experimentando-se como atriz, o que na opinião dela teve um resultado sofrível, e na minha, achei que ela atuava com verdade, vivacidade, charme e propriedade. Mas talvez ficasse às vezes com um olhar de diretora dentro da cena. Vanise Carneiro, na época uma jovem atriz, estudava com afinco seu texto e buscava nuances em sua interpretação que era muito convincente. Minha amiga Adriane Azevedo, que compôs com frieza e racionalidade seu papel, na cena investia com muita força e defendia bravamente sua Dilma. Adriane recebeu o Açorianos de Melhor Atriz Coadjuvante por este trabalho. O possuído e violentíssimo leão-de-chácara Osvaldo foi encarnado pelo ator Álvaro Rosacosta, também frio e calculista na composição, mas quente e inteiro na atuação, tanto que aparentava um verdadeiro prazer em torturar as três prostitutas. Giro, o veado dono da espelunca em que as três trabalham foi entregue ao grande ator e colega maravilhoso Paulo Vicente, que realizou, na minha opinião, uma interpretação memorável. A peça era densa, asfixiante. Um amigo meu, ao final de uma apresentação, falou que a gente deveria colocar uma passarela estendida da porta do teatro ao muro do viaduto para que o público se jogasse ao final do espetáculo, tal era a sensação de incômodo e mau estar físico causado pela peça. Realmente , era uma hora de puro terror, onde Plínio Marcos não deixa pedra sobre pedra. E a peça era, ou tentava ser, fiel a visão de mundo e sociedade pregada pelo autor. Completava-se assim a trilogia ARENA CONTA PLÍNIO, que acabou se restringindo as temporadas realizadas no Teatro de Arena. Todas as peças fizeram uma segunda rodada de apresentações no mesmo teatro no início de 1998 e encerraram suas carreiras sem atingir uma das principais propostas do Projeto Teatro Brasileiro que era mostrar o espetáculo para novas platéias que desconheciam a obra de Plínio Marcos. Bem que tentamos um contato com a Secretaria de Educação mas não houve interesse.

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