sexta-feira, 25 de abril de 2008

97 A NAVALHA NA CARNE

Na noite de estréia de A NAVALHA NA CARNE, a SMOV que andava fazendo uma obra de restauração no viaduto da Borges, resolveu despejar um caminhão de areia impedindo a passagem do público. Simplesmente não tinha como ninguém chegar no Teatro de Arena. Foi um stress adicional conseguir convecer um grupo de trabalhadores a desimpedir a passagem. Foi terrível. Eu estava excessivamente nervoso porque depois de muitos anos eu estava voltando a assinar a direção de um espetáculo e não queria que nada desse errado.
A NAVALHA NA CARNE foi a primeira das três a estrear. Patrícia Fagundes era minha assistente de direção, colaboradora importantíssima na execução do trabalho. Trouxessemos a diretora Ariela Goldmann para fazer um trabalho de preparação corporal e coreografia de brigas e porradas. A participação dela foi essencial para as três peças. No elenco estavam VERA MESQUITA, atriz de grande força e intensidade como Neusa Sueli; PINDUCA GOMES em sua primeira (e única, eu acho) performance dramática era o Vado; e RENATO CAMPÃO ator personalíssimo, afiadíssimo, inteiro em cena vivendo Veludo. Acho que consegui engessar a veia cômica do Pinduca, mas tive que brigar o tempo inteiro para restringir os cacos e referência do mundo gay portoalegrense que o Renato teimava e insistia em colocar no espetáculo. Desde o início, ainda na formulação do projeto, eu já pensava em trabalhar com o Campão. Achava que o estilo dele, a força dele em cena tinha muito a ver com aquela peça. Para o papel de Neusa Sueli, lembro que cheguei a pensar na Liane Venturella e até mesmo convidar a Adriane Mottola. É difícil demais, agora, na distância do tempo falar sobre os resultados. Lembro apenas que fiquei muito satisfeito. Uma pena que não se tenha uma crítica ou comentário sobre o trabalho. É mesmo lamentável. Lembro que os comentários eram bons, mas infelizmente só nos chegam aos ouvidos os bons comentários. As coisas "ruins"que poderiam nos fazer crescer são comentadas apenas na ausência dos interessados. Eu gostei do resultado. Achava que estava propondo um teatro de risco, com uma boa dose de originalidade, ousadia e transgressão, além de se colocar nitidamente como um teatro politicamente engajado. Ficava uma questão que somente seria parcialmente respondida muitos anos depois: o confronto de uma interpretação realista com uma encenação e um cenário que buscavam uma fuga do realismo.

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