quinta-feira, 24 de abril de 2008

96/97 ARENA CONTA PLÍNIO - O COMEÇO DE TUDO


Entrei para o DAD - UFRGS em 1974, tinha 20 anos, tinha feito vestibular para Medicina, mas passei em Teatro, que era minha oitava opção. (É, pasmem! Naquele período geológico a gente podia colocar oito opções para o vestibular.) A primeira peça que fiz foi "Quando as Máquinas Param", de Plínio Marcos, em 1976, com direção do meu grande amigo Paulo Florês, que entrou no DAD junto comigo e hoje é um dos líderes da Terreira de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz.
Mais tarde, passados 20 anos, ou seja, em 1996, consegui por edital ocupar por seis meses o Teatro de Arena para colocar em cena um projeto que eu vinha acalentando há, mais ou menos, uns dez anos: encenar uma trilogia Plínio Marcos que só podia acontecer se fosse no Arena por tudo que o Arena e o Plínio Marcos sempre representaram para a história do Teatro Brasileiro. Meu plano era encenar NAVALHA NA CARNE, DOIS PERDIDOS NUMA NOITE SUJA e QUANDO AS MÁQUINAS PARAM, todas com o mesmo elenco, coisa que acabou não acontecendo, por que naquele momento julguei que esta última peça era datada. Hoje percebo que estava enganado, mas... No lugar de QUANDO AS MÁQUINAS PARAM entrou a violentíssima O ABAJUR LILÁS. Mudou a peça, mas o projeto, com o nome de Projeto Teatro Brasileiro - Arena Conta Plínio aconteceu em toda sua potência dramática, sendo as três peças ambientadas no mesmo cenário asfixiante projetado pelo ultra excelente, genial Nelson Magalhães. Com pouquíssimas alterações o cenário abrigou as três encenações, que eram fortes, espetáculos de alto impacto, ou pelo menos era isso que eu, como diretor, queria que que cada uma delas causasse na platéia: impacto. Eu e o Nelsinho passamos muitas noites bebendo cerveja e discutindo o cenário em seus mínimos detalhes. O projeto foi aprovado pelo Fumproarte, recebeu uma grana do Estado e mais um dinheiro da Caixa Federal. Deu pra fazer uma produção legal com os atores ganhando cachê de ensaio e pricipalmente para custear o cenário que transformou a Sala do Teatro de Arena numa favela de compensado naval. O público tinha que assistir as peças através de frestas. Eram voyeurs do barraco do vizinho. O olhar do público devia completar a imagem do ator através de espelhos que circulavam o ambiente que era livremente inspirado em Bispo do Rosário, trabalhando com muitas velas, muitos ex-votos. O cenário era urbano e transpirava opressão, favela, miséria, fé, pobreza, ignorância e tantos outros adjetivos do Brasil retratado por Plínio Marcos.

Nenhum comentário: