sexta-feira, 13 de junho de 2008

98 - UMA AVENTURA NAS ÁRVORES - O TEATRO EVENTO

Outro viés da pesquisa nos levava para o teatro (re) colocado como um evento social importante, que tem o poder de recriar novas e múltiplas realidades e sentimentos diante dos olhos e dos corações do público que sente-se, imediatamente cúmplice e fazendo parte de algo ou de alguma coisa maior do que sua pequena vida. Uma nova maneira de propor o teatro aos olhos do público deslocando o evento teatral para um espaço não-convencional mas ligado as origens do teatro, quando atores e público conectavam-se com o cosmos através da arte. A história da arte mostra que em várias épocas o teatro assumiu este papel destacado e importante na sociedade, na civilização.
É claro que o dinheiro que recebemos do Fumproarte jamais daria conta de um sonho deste tamanho, de uma experiência com tamanha profundidade. O investimento não permitiu, por exemplo, que dispuséssemos de boas condições técnicas. Nossa iluminação era, no mínimo, razoável. Pra não dizer ruim. Os camarins que os atores usavam eram péssimos. A acomodação do público era péssima. Causamos estragos desnecessários na vegetação do Recanto Europeu. A improvisação e a criatividade foram requisitos fundamentais em muitos momentos. No final de cada apresentação, onde deveria ter uma mini explosão de fogos de artíficios, estouravámos seis foguetes de doze tidos porque era o que cabia no orçamento. Algumas maravilhosas soluções cênicas são encontradas neste engessamento orçamentário, mas são incontáveis as vezes que brilhantes soluções são sacrificadas porque o dinheiro não alcança. Principalmente quando a assunto é iluminação. As empresas que alugam equipamentos cobram um preço exorbitante.
Então para trazer de volta ao teatro este caráter de evento, de um acontecimento teatral que deve ser visto tem que haver investimento. Quando a gente vê uma apresentação do La Fura del Baus, da Ariane Minuxiquini, cada um dos grandes espetáculos trazidos pelo Porto Alegre em Cena, têm uma grana razoável por trás. Uma produção profissionalíssima movida a grana, a investimento.
Mas, respeitando nossos limites artísticos e financeiros, creio que conseguimos transformar cada uma das oito apresentações de "O BARÃO NAS ÁRVORES" num evento tão único quanto efêmero. Seguiámos no caminho iniciado por todas as experiências, happenings e perfomances cênicas dos anos 60, o trabalho do Bread and Puppet, as pesquisas sobre o espaço orientadas por Jerzi Grotowski, a pesquisa sobre a relação ator/espectador desenvolvida desde de o início pelo Ói Nóis Aqui Traveis. Enxergávamos nestes trabalhos uma preocupação com o espaço e também com a conexão possível entre atores e público (espetáculo); percebíamos que também estes artistas ansiavam por uma expressão mais profunda e autêntica/artística, buscavam a experiência humana que acontece quando o teatro se instaura. Parece muita coisa.

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